ARTIGO ESPECIAL: Os dez anos da Operação Corujão

Por Ramon Gonçalves - Equipe Parabuss
Há 10 anos o sistema de transporte coletivo da Região Metropolitana de Belém estava passando por uma grande transformação, naquele ano de 2014 a SeMOB criou a famigerada “Operação Corujão” cujo o objetivo era segundo o que explicavam “Verificar as condições dos ônibus que trafegam pela ruas da capital paraense”, mas muito além disso a operação serviu como escopo político para o fechamento definitivo de diversas empresas, em especial as companhias pertencentes à Família Viana, que outrora comandava a extinta Auto Viação Icoaraciense (AR).
Para entendermos o que motivou essa “caça às bruxas” precisamos voltar para antes de 2014, em 2007 a Icoaraciense entrava em sua fase final de operação, naquele momento a mesma começou a ser substituída pela Viação Princesa (BP), que vinha do setor intermunicipal como um braço da Transportes Boa Esperança (BE), pela Eurobus (BR) e pela Autoviária Paraense (AV), posteriormente a Autoviária deu origem a Viação Icoaraci Pará - VIP (CE) e a Vianorte (CF), mais para frente em 2010 a Icoaraciense acabou sendo absorvida pela Transcol (CG), enquanto a VIP passou a administrar a Expresso Marajoara (CN) e a Vianorte teve uma cisão chamada Transportes Montenegro (CR), todas essas empresas eram conhecidas informalmente como “Filhas da Icoaraciense” e operavam as linhas de Icoaraci, Outeiro e diversos bairros ao longo da Rodovia Augusto Montenegro, por outro lado havia uma empresa com pouca participação nesse setor, era a Belém Rio Transportes (BD) que naquela altura detinha apenas as concessões das linhas da Cabanagem e do Satélite, a empresa de Jacob Barata já almejava uma participação maior no transporte belenense, e em especial nas operações do BRT, que ainda estava em obras, em 2012 ocorre a eleição de Zenaldo Coutinho para a Prefeitura de Belém e é a partir daí que o império da Família Viana começou a ruir.
Por dois anos a tarifa de ônibus não sofreu reajuste e isso acabou por prejudicar o faturamento das empresas do conglomerado da antiga Icoaraciense, posteriormente nas palavras dos antigos donos as suas viações começaram a sofrer “perseguições” por parte do poder público, em especial da SeMOB que era administrada por Maísa Tobias, ela alegava que havia muitas empresas que não atendiam os requisitos mínimos para operar no sistema, entretanto o alvo principal era sempre as filhas da Icoaraciense, o primeiro movimento para derrubar elas aconteceu em 15 de Fevereiro de 2014 quando a Viação Princesa e a Expresso Marajoara foram substituídas nas linhas do Conjunto Maguari pela Belém Rio, após isso a Operação Corujão foi oficializada e iniciou a maior reviravolta do transporte urbano em décadas.
Junto com as empresas dos Viana quem também estava com os dias contados era a Viação Perpetuo Socorro (AK) que sempre sofreu com a ingerência do poder público, primeiro teve que dividir sua principal rota 632-Marex/Felipe Patroni com a Viação Rio Guamá (AP), essa situação foi revista mais tarde e a empresa de Paulo Batista acabou ficando com as linhas 631-Marex/Ver-o-Peso e 636-Marex/Presidente Vargas, a linha 634-Marex/Arsenal acabou sendo repassada para a concorrente Auto Viação Monte Cristo (AL), enquanto isso outras empresas eram cassadas da noite para o dia, caso da Via Urbana (CM) que operava a linha 440-Castanheira/Presidente Vargas, da Transporte Pinheiro que teve o seu único itinerário a 494-Guanabara/Presidente Vargas repassada para a rival Viação Forte (AF), da Alternativa Transportes (BX) que operava a rota 883-Itaiteua/São Brás e das empresas que operavam no município de Benevides, a Expresso Michele (BC) e Viaje Bem (BZ).
Em 01 de Agosto de 2014 mais um baque, a Eurobus foi sumariamente proibida de operar suas linhas, as rotas do Tenoné foram repassadas para a Belém Rio e Vialoc (BJ), enquanto a Transportes Montenegro assumiu o Jardim Europa, vendo o cerco se fechando por todos os lados, os membros da Família Viana acharam por bem entregar as concessões de todas as suas linhas, e quem coincidentemente absorveu 85% dessas rotas foi a Belém Rio, alegava-se que a empresa era a melhor do sistema em termos de conservação e renovação de frota, a desistência das filhas da Icoaraciense ocorreu formalmente em 30/09/2014, a partir daí a Belém Rio começou a assumir gradualmente os itinerários de Icoaraci, Outeiro e adjacências, foi um processo que durou até o início de 2015, quando a Princesa e a VIP desistiram de operar a linha 877-Icoaraci/Castanheira, entregando a mesma para a Transcol, junto com elas também foi-se a Perpétuo Socorro que repassou a 632 para a Transurb (AE).
A Belém Rio não estava preparada para absorver a demanda de seis empresas, na velocidade da luz houve uma expansão gigante na companhia, a mesma se viu obrigada a comprar mais ônibus e até a utilizar ônibus das empresas que estava substituindo, isso criou uma situação de desorganização interna, onde um ônibus podia ser repintado até três vezes por semana, com o tempo a empresa acabou se ajustando, só que esse rápido crescimento trouxe bastante efeitos colaterais, que são sentidos até os dias atuais, como a extinção de linhas e redução de outras tantas nas áreas de operação da empresa, sucateamento da frota que ocasionou diversos incidentes, como incêndios e perca de eixos em movimento por exemplo, e a questão de um certo monopólio que foi instaurado na área da Rodovia Augusto Montenegro, atualmente a Belém Rio é uma empresa bem mais modesta do que na época que assumiu as linhas das filhas da icoaraciense, opera boa parte do sistema BRT da capital e conta atualmente com uma outra gestão, compartilhada com a Barata Transportes (BN).
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